VATICANO

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REGIÃO NORTE 3

Lucas, o pesquisador

“Muitos tentaram escrever a história dos fatos ocorridos entre nós, assim como nos transmitiram aqueles que, desde o inicio, foram testemunhas oculares e, depois, se tornaram ministros da palavra. Diante disso, decidi, também eu, caríssimo Teófilo, redigir para ti um relato ordenado, depois de ter investigado tudo cuidadosamente desde as origens, para que conheças a solidez dos ensinamentos que recebeste” (Lc 1,1-4). Assim o evangelista Lucas começa o seu evangelho. Discípulo e colaborar de Paulo, ele escreveu um texto que se tornou uma preciosa fonte de informações do que Jesus falou e fez.

Lucas apresenta Jesus no contexto de uma família e de uma comunidade – a pequena comunidade de Nazaré. Foi ali que Jesus começou a proclamar uma “boa notícia”. Sua mensagem se dirigia a todos, sem exclusão, mas com uma preferência declarada: pelos pobres, social e espiritualmente. Os ricos, que correm o risco de fazer de seus bens um “deus”, são advertidos: “Ainda nesta noite, tua vida te será tirada. E para quem ficará o que acumulaste?” (Lc 12,20).

Segundo o evangelista, Jesus começou escolhendo discípulos que deveriam garantir a continuação de sua obra. Para assumir tal missão, seus seguidores deveriam deixar casa, família e profissão. A pregação do Mestre teve forte oposição dos chefes do povo, pois muitos deles se haviam esquecido dos objetivos religiosos de suas atividades e cuidavam somente de seus próprios interesses. Foram eles que, depois de rejeitar Jesus, o condenaram à morte de cruz. Mas Deus ressuscitou Seu Filho! Ao aparecer aos discípulos, Jesus lhes mostrou, pelas próprias Escrituras, que nele se tinham realizado as promessas feitas aos antepassados – isto é, o Messias chegaria à glória pelo caminho do serviço e da doação da própria vida. Seus discípulos, para serem coerentes, devem imitá-lo. Mas que não se preocupem, pois recebem uma força do alto – a do Espírito Santo.

Lucas acabou ficando com fama de pintor, tão expressiva é a sua maneira de apresentar pessoas e situações. É o evangelista da infância de Jesus: seu evangelho apresenta momentos únicos dos primeiros anos da vida do Filho de Deus na terra dos homens. Quando descreve esses anos, apresenta-os do ponto de vista de Maria – diferentemente de Mateus, que descreve a infância de Jesus a partir do ponto de vista de José. Muitos chamam Lucas de evangelista-médico, tantas são as curas de Jesus que ele relata. Mas é particularmente lembrado como o evangelista da misericórdia, pois nos transmite parábolas ou fatos que mostram a intimidade do coração de Cristo. Quem não se recorda da parábola do Filho Pródigo ou do encontro de Jesus com Zaqueu? Realmente, “o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

Se os evangelhos nos apresentam os atos e as palavras de Jesus, os Atos dos Apóstolos – livro também escrito por Lucas –, nos retratam os atos e as palavras dos primeiros seguidores do Salvador. Os Atos são uma continuação do evangelho de Lucas, constituindo-se na segunda parte de sua obra. Tomamos conhecimento, assim, do que aconteceu após a ressurreição e elevação de Jesus aos céus.

Reunidos no Cenáculo, os apóstolos, a Mãe de Jesus e alguns homens e mulheres – “um grupo de mais ou menos cento e vinte pessoas” (At 1,15) –, receberam o Espírito Santo e começaram a escrever, com suas vidas, uma nova etapa da História da Salvação. As pregações, as viagens e a ação pastoral de Pedro e de Paulo têm um destaque especial nesse livro. A impressão que fica, no final de sua leitura, é que muita outra coisa poderia ter sido descrita, mas que foi preciso fazer uma seleção. Além disso, fica subentendido que a História da Salvação continua sendo escrita por aqueles que acreditam no Evangelho e colocam em prática seus ensinamentos. Conduzidas pelo Espírito Santo, tais pessoas trabalham para que outros tenham a alegria de conhecer a solidez daqueles ensinamentos a que o evangelista se refere no início de seu evangelho – ensinamentos que são fonte de vida e verdade.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

Fonte: CNBB

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